sábado, 12 de maio de 2007

A nova ordem mundial


A NOVA ORDEM INTERNACIONAL

Quando o “Modelo Socialista Soviético” se vira esgotado, após as mudanças estruturais promovidas por Gorbatchev e continuadas pelos diversos novos países adentrados no Sistema de Mercado, acreditou-se, a princípio num aumento da hegemonia dos EUA. Posteriormente, viu-se que o “modelo” de dominação com base no uso de força militar, empregado em grande volume pelos EUA, não estava lhe rendendo os resultados políticos esperados. Bem ao contrário disso, criava-se um certo antagonismo aos métodos truculentos estadunidenses e ressurgiam potências adormecidas diplomaticamente por todo o período de Guerra Fria. Pode-se notar o fim da bipolaridade mundial (EUA x URSS) e o surgimento da multipolarização das decisões.
O fim do mundo bipolarizado da Guerra Fria não significou a eliminação automática dos conflitos e atritos internacionais. Hoje esse confronto se reveste de um conteúdo muito mais econômico-comercial do que político-ideológico.
Com isso, podemos afirmar claramente que o mundo substituiu um tipo de “guerra” por outro.
Entretanto, embora se dê a entender que este tipo atual é menos maléfico do que o primeiro, trata-se apenas de ilusão, pois os efeitos catastróficos sobre os países pobres pioram, principalmente por causa das “novas” regras “mundializadas”, que expuseram as nações de economias frágeis à perversidade dos interesses individuais dos grandes empresários e donos do capital de financiamento internacional, que geram crises, miséria, desemprego e violência de compatriotas, “simplesmente” para defenderem os seus investimentos e lucros.
Nesse estágio do desenvolvimento produtivo, em que predomina a internacionalização do capital, consolida-se a interdependência crescente das grandes transnacionais, ultrapassando suas fronteiras de origem e colocando as questões nacionais em segundo plano. Os interesses dos Estados ficam, mais do que nunca, atrelados aos interesses do capital internacional.
O fim do Século XX será lembrado como um período de muitas transformações no mundo. Elas impressionaram pela forma inesperada e veloz com que ocorreram e pela divulgação que tiveram. Isso aumentou as incertezas sobre a ordem mundial em que vivemos. Afirma-se com freqüência que o planeta atravessa, agora, uma “desordem” mundial. Vários livros didáticos e atlas geográficos sofreram reformas para atualizar suas análises e descrições e seus mapas. No entanto, essa tarefa de acompanhamento parece inglória, já que nada indique qualquer tipo de estabilidade no nosso conturbado planeta. Algumas questões imediatamente se impõem. Essa insegurança se justifica? Os fatos que se precipitaram apontam rupturas radicais? Acreditamos que a discussão exige que trilhemos outros caminhos. Não será o caso de repensarmos os próprios métodos de análise até aqui utilizados? Afinal eles, em geral, se mostram incompatíveis com os rumos dos acontecimentos. O maior exemplo era a crença na existência de uma sólida ordem mundial, sustentada na oposição entre socialismo e capitalismo. Crença essa que se mostrou, com rapidez incrível, ser infundada.
Há quanto tempo são usadas as mesmas classificações sobre a organização ou regionalização dos espaços internacionalizados – capitalismo x socialismo; países desenvolvidos e subdesenvolvidos; Primeiro Mundo, Segundo Mundo e Terceiro Mundo; centro e periferia; divisão internacional do trabalho; ordem mundial e outras mais – sem que se questione seus fundamentos?

A REGIONALIZAÇÃO DO MUNDO
As diferentes classificações regionais do mundo que apontamos anteriormente (países do Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos, desenvolvidos, subdesenvolvidos, etc.) são tentativas de agrupar os países segundo características comuns. Por exemplo, os países desenvolvidos teriam particularidades que os tornariam distintos dos subdesenvolvidos.
Essas classificações convencionais que procuram entender a divisão regional do mundo têm validade, mas nos parece claro que todas elas merecem uma rediscussão profunda e não apenas uma simples atualização. E nada melhor do que aproveitar um período agitado por transformações para revermos os métodos de interpretação do mundo moderno.
Vejamos algumas modificações no mundo em que vivemos.
O chamado bloco socialista revela uma crise de morte, com a falência e desmembramento da URSS e dos regimes da Europa Oriental, contrariando as análises anteriores. A Europa Ocidental unifica-se de forma ousada, criando a União Européia (EU). O Japão assume o papel de 2ª grande potência econômica e influencia decisivamente o Extremo Oriente, onde investe nos Tigres Asiáticos (Coréia do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong), China e Austrália. Os EUA, a grande nação deste século, têm sua hegemonia econômica e político-militar contestada e também conduzem um processo de unificação regional através do NAFTA (North American Free Trade Association) com o México e Canadá.
No chamado Terceiro Mundo, o panorama de pobreza e degradação social se agrava, desmentindo a ilusão do progresso constante e irreversível da humanidade. A América Latina debate-se contra dificuldades econômicas e a miséria social. O continente africano sucumbe diante da fome, guerras e epidemias. No Oriente Médio as reações contra a expansão do mundo ocidental intensificam-se. A ameaça se expressa com o crescimento e fortalecimento dos regimes fundamentalistas antiocidentais, com destaque para o estado Islâmico do Irã. Todos esses fatos, lembrados rapidamente, de uma forma ou de outra causam problemas aos critérios de classificação regional adotados habitualmente.
Países com situações tão diversas como Brasil, Argentina, México, Egito, Índia, Coréia do Sul, Tailândia, Irã, Iraque, etc. cabem na idéia de Terceiro Mundo ou de países subdesenvolvidos ou ainda países em desenvolvimento? Como avaliar o fenômeno do desenvolvimento econômico dos Tigres Asiáticos, considerados até recentemente como explorados e condenados ao subdesenvolvimento, passaram por duas décadas de crescimento, sofrendo grande Crash, no final de 1997, início de 1998? Não há respostas simples para essas questões.

ORDEM MUNDIAL

A idéia de ordem mundial tem tido um uso cada vez mais freqüente. Os eventos mundiais dos anos 80 são os responsáveis pelo uso constante da expressão. É bom começar lembrando que essa idéia sempre esteve mais ligada à dimensão política das relações entre os países. É no quadro da idéia de ordem mundial que se abordava o confronto, que muitos consideram o mais importante do século, capitalismo x socialismo, além dos conflitos bélicos (guerras) e das relações de poder entre as nações.
As decisões políticas, contando também com as forças das armas, seriam as principais responsáveis por uma dada ordem mundial, superiores nesse caso aos fatos econômicos. Assim, seriam os Estados nacionais mais poderosos (como os EUA e a URSS) os atores fundamentais dessa ordem. Suas atitudes refletiriam mais do que simplesmente a defesa de interesses materiais de cada um. Corresponderiam à defesa de visões diferentes de mundo, em todos os planos da vida social.
A idéia de ordem mundial tem sua validade. Seu principal mérito é o de incluir a política (as relações de poder, as guerras) como elemento de entendimento do mundo moderno e de sua diferenciação regional. Porém, atualmente, baseada na idéia mundial, surge em contrapartida a idéia de “desordem” mundial, que refletiria de forma mais justa o final do Século XX. Afinal, a ordem mundial baseava-se no equilíbrio de forças das duas potências mundiais e esse equilíbrio não existe mais. Assim, pelo menos transitoriamente, estamos numa situação de desordem, em que estaria sendo gestada uma nova ordem mundial.
Estaríamos de fato vivendo essa situação? Eis mais uma resposta que não pode ser simplificada. Mas alguns acontecimentos recentes contribuem para se pensar na questão.
Por ocasião da Guerra do Golfo, ocorrida no inicio de 1991, a ousadia de Saddam Hussein estaria ameaçando a ordem mundial e não foi longe de seu intento, já que feria interesses ocidentais.
Desse modo, parece ter havido uma mudança de atores, sem que o roteiro (nesse caso a ordem mundial) tenha apresentado mudanças significativas. Mas o número de atores (países) que se envolveram em questões de âmbito internacional, a partir dessa Guerra, aumentou consideravelmente, demonstrando que, daí em diante, as decisões passariam por outras esferas, que não só a soviética e a estadunidense.
A nova ordem internacional parece caminhar para uma divisão do mundo em três grandes áreas sob hegemonia da tríade formada por Estados Unidos, Japão e Comunidade Econômica Européia. Segundo o FMI, em 1980 esse conjunto de países era responsável por 50% do total dos investimentos mundiais diretos; hoje eles controlam 81% destes investimentos. Observados os investimentos regionais, verifica-se que cada membro da Tríade investe mais nos países que compõem sua área de hegemonia. Na América Latina, 61% dos investimentos foram realizados pelos Estados Unidos. Na Ásia, 52% pelo Japão e, no Leste Europeu, 64 % pela UE.

MUNDO DOS BLOCOS/ OS BLOCOS ECONÔMICOS


A formação de blocos econômicos não é um fenômeno que surgiu do nada. Principalmente após a Segunda Guerra Mundial, muitos organismos internacionais (entre nações) vêm sendo articulados, com o objetivo de aumentar os mercados e os laços de cooperação econômica entre os países membros.
Alguns exemplos podem ser citados:

· CEAO (Comunidade Econômica da África Ocidental), formado por Benin, Costa do Marfim, Mali, Mauritânia, Níger, Senegal, Burkina Faso;
· BENELUX Associação que reproduz o nome de seus componentes: Bélgica, Holanda e Luxemburgo;
· ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático), cujos os membros são: Cingapura, Filipinas, Indonésia, Malaísia e Tailândia;
·AELC (Associação Européia de Livre Comércio), que reúne Áustria, Finlândia, Islândia, Noruega, Suécia e Suíça;
·ALADI (Associação Latino-americana de desenvolvimento e Intercâmbio), cujos os membros são Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Uruguai e Venezuela;
·APEC (Associação de Cooperação econômica da Ásia e do Pacífico), que reúne EUA, Canadá, México, Chile, Japão, china, Tigres Asiáticos, Austrália, Nova Zelândia, Brunei e países da ASEAN.
Esses são organismos regionais. As formas de cooperação em cada um dessas organizações e a intensidade de relacionamento entre seus membros variam muito. Algumas delas só existem no papel, outras já expiraram com o tempo.
Formalmente trabalham para ampliar a cooperação no futuro, mas pouco realizam atualmente. É o caso, por exemplo, da ALADI, instituída em 1960.
Porém foi no interior da ALADI que se gestou algo que se apresenta muito promissor: é o MERCOSUL, integrado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Visa constituir-se em um mercado comum, com a queda de barreiras alfandegárias e a livre circulação de mercadorias, capitais e trabalhadores.
Foi na Europa que concretamente esses esforços de cooperação regional vingaram. Já havia algum tempo funcionava o BENELUX. Posteriormente o MCE – Mercado Comum Europeu, que preparou a atual UE – União Européia. Em 1957 foi firmado o tratado de Roma, que fecundou a idéia de unificação européia no então MCE. Outro organismo poderoso que foi criado é o NAFTA – North American Free Trading Association –, o mercado comum norte-americano, como veremos a seguir.


OS NOVOS BLOCOS COMERCIAIS E A CRISE ECONÔMICA MUNDIAL

Muitos analista se perguntam onde estaria a novidade dos blocos comerciais, se o mundo está repleto de organismos de cooperação econômica em cada região já há algum tempo.
Uma primeira resposta destaca que a qualidade do que ocorre neste final de século é superior. Da cooperação caminha-se para unificação. Os laços se estreitam em todos os níveis – não só no econômico. As dimensões desses novos blocos são bem maiores.
Porém, qual seria a relação desse fenômeno com a crise da economia mundial? Seria apenas um aperfeiçoamento natural das regras de intercâmbio mundial, como muitos defendem, ou na verdade resultaria de esforços para superar a crise ou se proteger dela?
Parece haver um pouco de tudo, mas a crise tem sido o fator preponderante, pois a própria constituição desses blocos tem gerado novas tensões e está longe de ser harmoniosa.
Como se fosse apenas um aperfeiçoamento, qualquer iniciativa seria aplaudida pela comunidade internacional. Mas não é o que ocorre. Há muito temor que a situação mundial se agrave e que muitos saiam perdendo. Vejamos o caso a seguir.
Em agosto de1992, EUA, Canadá e México assinaram um acordo para criação de zona norte-americana de livre comércio – o NAFTA. Imediatamente o Japão (e sua área de influência) e a UE (União Européia) reagiram, declarando que saúdam o acordo, mas desde que respeite as regras do comércio internacional. Condicionaram seu apoio, pois desconfiam que o acordo signifique a construção da “Fortaleza América”, que se fecharia ao comércio mundial.
A expressão “Fortaleza América” é irônica e uma provocação aos EUA, que constantemente manifesta seu temor de que a UE significaria uma “Fortaleza Europa” fechada ao comércio mundial, tal o volume de medidas protecionistas (que protegem produtos locais, taxando fortemente os produtos estrangeiros).
Dentro dessa tendência de constituir blocos ou associações comerciais para vencer a crise econômica, a UE é o exemplo que está mais próximo de consolidar-se.


UNIÃO EUROPÉIA: UMA CLARA REALIDADE EM CONSOLIDAÇÃO

A liderança americana foi sofrendo uma erosão progressiva ao mesmo tempo que a economia capitalista mundial se tornava mais complexa e multipolarizada.
A reconstrução européia, impulsionada pelos dólares do Plano Marshall, apoiou-se no conceito de tamanho do mercado. Na nova economia capitalista mundializada, a fragmentação política européia representava um limite muito estrito para a expansão das empresas industriais financeiras do continente.
Esses limites foram sendo paulatinamente ultrapassados pela formação de organizações econômicas supranacionais.
A Europa já vinha de experiências anteriores, como a CECA – Comunidade Européia do Carvão e do Aço –, criada em 1951 e integrada pela antiga Alemanha Ocidental, França, Itália e os países de outra instituição de cooperação econômica, o Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo).
Em 1957, a então Alemanha Ocidental, Bélgica, França, Luxemburgo e Holanda assinaram o Tratado de Roma, criando o CEE – Comunidade Econômica Européia – ou MCE – Mercado Comum Europeu. Em 1973 entraram Dinamarca, Grã-Bretanha e Irlanda. Em 1981, a Grécia e, em 1986, Portugal e Espanha.
O Tratado de Roma (MCE), tinha o ambicioso objetivo de suprimir todas as tarifas sobre circulação de mercadorias, serviços e capitais e todas as restrições à movimentação dos cidadãos no interior do espaço comunitário, criando uma União ou talvez um Superestado. Contudo, só nos anos 90, quase 30 anos após sua criação, foram dados os passos mais significativos nessa direção..
A Comunidade Européia (CE) nasceu no cenário bipolar da Guerra Fria, e cumpriu um papel essencial para hegemonia norte-americana sobre a Europa Ocidental. Entretanto, ela sobreviveu ao cenário geopolítico que lhe deu origem. A desagregação da União Soviética, a derrocada do socialismo na Europa e a reunificação alemã, processos ocorridos entre 1989 e 1991, redefiniram o papel da CE. Lastreada no sucesso econômico da Alemanha, a Europa comunitária emerge na ordem mundial pós-Guerra Fria como um dos mais poderosos blocos econômicos supranacionais, destinado a rivalizar com os Estados Unidos e com o Japão.
Em dezembro de 1991, na pequena cidade holandesa de Maastricht, deu-se o passo mais ambicioso no sentido da unificação. O Tratado de Maastricht substituiria o Tratado de Roma, a Comunidade Européia passou a ser denominada União Européia (UE).
O Tratado de Maastricht definiu os novos passos que deveriam ser dados rumo à integração econômica e política. Entrou em vigor em 1º de janeiro de 1993.

Entre os pontos principais estão os seguintes:
· unidade política: cria a figura do cidadão europeu. Esse cidadão poderá morar e trabalhar em qualquer país membro, assim como votar e candidatar-se em eleições municipais (um grego pode vir a ser prefeito numa cidade italiana, por exemplo) ou ao Parlamento europeu;
· união econômica e monetária: prevê a criação, em várias fases, de uma moeda única e um Banco Central único. A moeda única seria adotada em 1º de janeiro de 1997 – se não houvesse problemas de ajustes. De outro modo, será adotada de qualquer modo em 1º de janeiro de 1999;
· igualdade social: a comunidade compromete-se a diminuir as diferenças sociais nos padrões de vida dos povos dos países membros, através da canalização de recursos extras para os países pobres;
·área de interferência: a UE ganha autoridade para atuar em área como assuntos externos e de segurança, comércio, agricultura e pesca, transporte, meio ambiente, indústria, pesquisa e desenvolvimento, saúde, justiça, educação, proteção ao consumidor, energia e turismo.
Além disso, a UE nasceu junto com um amplo esforço de alargamento das fronteiras de integração, passando englobar, desde 1995, países que adotaram uma postura geopolítica de neutralidade durante a Guerra Fria: Suécia, Finlândia e Áustria. O seu poder de atração se manifesta tanto entre os países da Europa Oriental que fizeram parte do antigo bloco soviético como entre países da Europa Mediterrânea.
Embora seja este o melhor exemplo de grupo ou Bloco Econômico em funcionamento na atualidade, existem muitos assuntos pendentes, como o crescente desemprego, os grupos de reação à presença de imigrantes pobres em “seus” países, gerando sangrentos atentados ligados à xenofobia.
Além disso, a euforia inicial de conquista de mercados em todos os continentes, já fora abandonada.
Esta fugaz euforia colocou no poder governantes que preconizavam ao mundo uma política neoliberal, visando quebrar possíveis resistências que, por ventura, viessem existir em relação aos demais países do planeta, como a forte ex-Primeira Ministra inglesa Margareth Thatcher. Entretanto, essa política vem causando danos a várias camadas de países, tanto entre os subdesenvolvidos, quanto entre os desenvolvidos.
São os mega grupos empresariais ou mega investidores, como o estadunidense G. Soros, que estão passando a controlar a economia mundial e, por extensão, influenciando nas decisões de políticas internas de países pobres e ricos.
Ainda não existem regras claras, que limitem a ação individual sobre a coletiva. O Estado tende a ser minimizado, relegado a um plano secundário, em alguns casos, desmantelado.

JAPÃO: A ATUAÇÃO NA BACIA DO PACÍFICO

Assim como a Europa – e, em especial, a Alemanha –, o Japão emergiu da Segunda Guerra Mundial virtualmente arrasado. Nesse caso, a estratégia de reconstrução envolveu dois elementos básicos: a formação de poupança interna e a conquista dos mercados externos. Ao contrário da Europa, a trajetória da reconstrução japonesa realizou-se quase que à margem dos capitais americanos.
A capitalização dos conglomerados industriais apoiou-se no baixo custo da força de trabalho e na fragilidade do movimento sindical. Além disso, eles contaram com um imenso volume de poupança popular, garantido pela debilidade do sistema de previdência social e pela carência habitacional e canalizado para os investimentos empresariais por meio de um poderoso sistema financeiro. O consumo comprimido transformava-se em capital e o capital, em tecnologia. Vultuosos investimentos em educação (que já se encontrava como prioridade de governos nipônicos desde a chegada ao poder da Dinastia Meiji –1868-1912) fortaleceram a competitividade da economia japonesa.
A conquistas dos mercados externos apoiou-se numa política agressivamente exportadora, fundada na subvalorização do iene: produtos japoneses deveriam ser baratos fora do Japão, e produtos estrangeiro deveriam ser caros dentro do Japão. A força do dólar fez o resto. Na década de 60, o Japão começava a registrar saldos positivos no comércio com os Estados Unidos, enchendo as lojas americanas de relógios, carros, aparelhos de som e televisores. De exportador a investidor foi um pulo: logo, fábricas japonesas começaram a ingressar nos EUA. Na década de 70, a informática e microeletrônica assumiram a primazia entre as manufaturas de exportação. Foram ainda mais popularizadas com o advento da miniaturização da produção, o que reduzia os custos com matéria-prima e barateava o preço final, aumentando bruscamente as vendas.
O crescimento econômico japonês alastrou-se para muito além das fronteiras do arquipélago. A crise do petróleo dos anos 70 acelerou um amplo deslocamento de indústrias tradicionais – de consumo intensivo de trabalho e de energia – em direção à periferia do Japão, dinamizando o crescimento econômico do leste e do sudeste asiático (Coréia do Sul, Hong Kong, Formosa, atual Taiwan, Cingapura, Indonésia, Malaísia e Tailândia). O megabloco transnacional da Bacia do Pacífico começava a ganhar corpo.
A polaridade exercida por esse bloco atraiu até mesmo a Austrália, tradicional parceiro econômico da Europa Ocidental. Fruto da colonização de povoamento européia, a Austrália foi colônia Britânica e tornou-se depois membro da Comunidade Britânica. Nas últimas décadas, o Japão vem paulatinamente substituindo a Grã-Bretanha como principal parceiro comercial do país. Os vastos recursos minerais e as potencialidades agropecuárias transformaram a Austrália em uma promissora fronteira de recursos para o capitalismo japonês.
Desde a década de 70, mas com maior intensidade nos anos 80, as liberalizantes reformas ocorridas na China Popular abriram um novo espaço de desenvolvimento industrial na Bacia do Pacífico. Japão e Formosa assumiram a liderança das “Zonas Econômicas Especiais” criadas no litoral chinês com objetivo de atrair investimentos estrangeiros e diversificar as bases tecnológicas do país.
O bloco econômico liderado pelo Japão não tem estruturas institucionais oficiais. Apoia-se na rede de fluxos de capitais emanada da poderosa economia do arquipélago, que começa a transformar a Bacia do Pacífico numa zona econômica mais importante que o Atlântico Norte.
É certo que o Japão passou (e ainda sofre com as seqüelas deixadas) por crise econômica que vem se arrastando desde o início dos anos 90, pois reduziu sua base de maior lucratividade, que são as exportações, revertendo boa parte de sua produção para o mercado interno.
Vale ressaltar, também, a recente crise financeira que desbancara os famosos Tigres, mostrando a fragilidade de uma economia neoliberal, que não se protege das mazelas da globalização.
Contudo, este ainda é o espaço (Bacia do Pacífico) visto como o mais promissor no âmbito de produtividade e comércio no mundo.

O NAFTA: TODO ESFORÇO DOS EUA PARA A CRIAÇÃO DA ALCA

O término da Guerra Fria e a consolidação dos megablocos regionais na Europa e no Pacífico impuseram aos Estados Unidos uma revisão de sua inserção na economia mundial. A ampliação do tamanho dos mercados e a constituição de espaços econômicos supranacionais parecem definir as novas regras da competição em escala global. A potência americana se curvou a essas novas regras.
A Iniciativa para as Américas, lançada pelo Presidente George Bush em junho de 1990, se insere nesse contexto. Sem fixar prazos ou cronogramas rígidos, tentava estabelecer como meta a formação de uma zona de livre comércio em todo o continente americano – “do Ártico até a Terra do Fogo”.
A criação do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta, North American Free Trade Agreement) é a primeira das realizações concretas dessa estratégia. Assinado em agosto de 1992, esse tratado prevê a abolição progressiva das tarifas alfandegárias e a criação de um mercado comum entre o EUA, o México e o Canadá. As negociações de cada um dos parceiros do Nafta com outros países do continente podem, na prática, ampliar em futuro próximo a área de abrangência do acordo.
Tendo como vértice a economia americana, o Nafta integra em um mesmo um mesmo espaço econômico parceiros desiguais econômica, política e demograficamente, cujas as relações históricas com os Estados Unidos são bastantes diferenciadas. O Canadá apresenta economia desenvolvida e diversificada, baixo crescimento vegetativo e elevados níveis de vida. Entretanto, a prosperidade canadense oculta um alto grau de dependência do país com relação aos capitais e investimentos norte-americanos. O México, ao contrário, apresenta profundos desníveis sociais, forte crescimento vegetativo e intensos movimentos migratórios. Não por acaso, o Nafta prevê livre circulação de mercadorias e capitais, mas não de pessoas. O México oferece ao vizinho poderoso uma farta reserva de mão-de-obra barata e imensa potencialidades naturais.
Os EUA tiveram que se adaptar às novas faces das relações globalizadas do mundo atual, em que a economia e a política pesam mais que o poderio militar – embora este ainda tenha lá suas vantagens. Cortou gastos, reduziu a força militar, encolheu sua máquina de guerra e trocou de governo. Havia cerca de 50 anos que os EUA era governado por Republicanos, conservadores em essência, beligerantes e megalomaníacos em atitudes. Mudou-se radicalmente para um governo sob a liderança de Bill Clinton, do partido Democrata, que investiu na abertura de novos empregos, reduzindo a participação na política mundial e cuidando mais da economia e interesses internos, em seus dois mandatos, atravessando os anos 90.
Todavia, os EUA passaram a ver o crescimento da influência da União Européia e do Japão sobre uma área tradicionalmente coberta pela sua hegemonia – a América Latina.
Clinton procurou acelera a unificação total do continente sob a égide de “um só mercado para as Américas”, mas acabou vendo suas pretensões esbarrarem em miniblocos locais. O Mercosul tornou-se o principal empecilho aos planos dos EUA.

EXERCÍCIOS


01.(NEWTON PAIVA)

O processo de unificação econômica da Europa Ocidental foi marcado pela criação de uma sucessão de organizações econômicas que começaram a surgir a partir dos anos 40. Estas iniciativas culminaram com a assinatura do Tratado de Maastrich, que prevê a unificação monetária e a formação de um único bloco entre 1997 e 1999.
Indique a alternativa em que aparecem apenas países que participaram do Tratado de Maastrich.

a) França, Alemanha, Inglaterra e Itália.
b) Rússia, Polônia, Hungria e Albânia.
c) Rússia, Alemanha, Inglaterra e Suíça.
d) Japão, Estados Unidos, Alemanha e Inglaterra.
e) Inglaterra, Grécia, Itália e Bulgária.
02.(UFLA) São afirmativas verdadeiras sobre o Mundo Contemporâneo, EXCETO:
a) Os conflitos étnicos têm aumentado em todas as parte do mundo, principalmente na Europa, África e Ásia.
b) Novos países surgiram na Europa e na Ásia com o desmembramento da União Soviética.
c) As diversas populações mundiais têm sido favorecidas igualmente com os avanços tecnológicos.
d) Blocos econômicos estão se formando nos diversos continentes com o objetivo de defenderem os interesses regionais.
e) Na América Latina os governos ditatoriais dão lugar a governos democráticos, na maioria dos países.


03.(FUMEC) A crescente diferenciação entre o Norte desenvolvido e o Sul empobrecido tende a se agravar mais nesse final de século. Por isso o temor, nos países ricos, de uma invasão de imigrantes é crescente, sendo comum eles se referirem a esses imigrantes como os novos “bárbaros do sul”.(Vicentino, Cláudio & outro, O mundo atual - SP. Scipione, p.30)
Essa crescente aversão aos estrangeiros tem apresentado formas radicais de extremismo, de intenso caráter racista.
Entre as ações racistas, ocorridas em países considerados do Primeiro Mundo, destaca-se os:
a) skinheads – neonazistas, na Alemanha.
b) stalinistas, na Rússia.
c) palestinos, no Oriente Médio.
d) sandinistas, na Nicarágua.
e) sérvios, na antiga Iugoslávia.

04.(UFOP) Leia a frase abaixo.
“Na Copa do Mundo de 2006, um turista americano poderá comprar em Paris uma bola de futebol de marca alemã fabricada no Paquistão e importada por uma empresa italiana administrada por gerentes de diversas nacionalidades, dentre elas a brasileira.”
O fenômeno apresentado descreve uma ordem econômica conhecida como:
a) globalização.
b) internacionalização.
c) massificação.
d) monopolização.
e) nacionalização.

05.(UFJF) Das alternativas abaixo, assinale aquela que se identifica com os princípios da ideologia neoliberal:
a) maior intervenção do Estado na economia;
b) proteção dos mercados nacionais através da regulamentação econômica;
c) abertura da economia ao mercado externo e proteção interna ao salário do trabalhador;
d) impedimento à participação política das camadas populares;
e) transnacionalização de mercados, abertura da economia e ausência de regulamentação econômica.

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